O tempo do Rio dos Currais já passou. Pertence à história da colonização brasileira, quando os portugueses implantaram a agroprodução da cana-de-açúcar nas terras de massapé do litoral do Nordeste e empurraram a criação de gado para o interior. Subiram o Velho Chico e implantaram as fazendas. Terras não faltavam e os colonizadores podiam se apropriar do que bem entendessem, tudo estava ao Deus dará. Nem cercas eram necessárias. A produção era subsidiária da grande indústria do açúcar tocada por mão de obra escrava, voltada para o mercado externo e em grandes propriedades.
Ninguém espera que a guerra dure tanto. Nem os chefes militares, os mais conceituados do mundo. Eles garantem à população que o conflito vai ser decidido em questões de semanas e que a população civil será minimamente afetada. A guerra já é esperada há algum tempo. As negociações de paz não evoluem e nem mesmo a entidade internacional de nações é capaz de impedir o conflito que se avizinha no horizonte. A situação se assemelha a um barril de pólvora que vai sendo cheio através das crises imperialistas e ameaças constantes de parte a parte. Para alguns analistas é uma crônica de uma guerra anunciada, plagiando Gabriel García Márquez.
Vermelho no governo é impensável. Desde sua proclamação, nenhum comunista ocupou cargo importante na República. Nem na presidência, nem como ministro do Supremo Tribunal Federal. Os prédios públicos ostentam um crucifixo, o que é um recado de que os ateus não têm vez. Há um estigma contra comunistas, que são responsabilizados pelo incentivo da luta de classes e o que mais a elite brasileira teme: uma reforma agrária com expropriação das terras sem qualquer tipo de indenização. Chamam os fazendeiros de “terratenientes” e as fazendas de latifúndios.
O bairro está em polvorosa. Os assaltos são cometidos tanto contra os comerciantes como contra aqueles que ousam sair de casa à noite. Mesmo durante o dia é arriscado sair para fazer uma compra no supermercado ou alcançar um transporte público para trabalhar! Os pedidos de policiamento caem no vazio e vez ou outra aparece uma autoridade para dizer que não tem efetivo, viaturas e armas que possam competir com as dos bandidos. .
Na capital do Brasil não se fala em outra coisa. Os analistas políticos esquentam o ambiente com perfis polêmicos do indicado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Cabe ao presidente, segundo a Constituição republicana, indicar os onze ministros que compõem o Tribunal. Nos bastidores há uma forte disputa política e se o indicado tem ou não comprovado saber jurídico não é relevante. O postulante à vaga junta todos os títulos que possui para convencer os senadores de que ele deve ser consolidado no cargo. Cabe aos senadores avaliar os conhecimentos jurídicos do candidato, e eles mesmos não têm nível para isso.
Imagens da destruição são avassaladoras. A cidade destruída pelos bombardeios não contabiliza mais nenhuma construção intacta. O que se vê pelas ruas são escombros do que foram, há pouco tempo, casas e prédios comerciais. Não é possível distinguir de onde vem tanto entulho, se já existiam ali ou caíram dos muros e paredes dos prédios. Poucas pessoas se arriscam a caminhar pelos escombros, dada a dificuldade de avançar e o perigo de ser atingido por uma bomba.