A doença celíaca é uma doença auto-imune, desencadeada pelo contato com o glúten (proteína presente no trigo, cevada e no centeio), na presença de certos fatores ambientais, em indivíduos geneticamente suscetíveis. Acompanhe uma entrevista com o gastroenterologista Roberto Magalhães M. Filho, membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e entenda como tratá-la.
1) Quem está sujeito a tê-la?
Cerca de 1 % da população mundial e é cerca de 1,5 a 2 x mais frequente em mulheres. Só suscetibilidade genética e exposição ao glúten não são definitivas para desenvolvimento da doença. Há fatores ambientais que contribuem: a exposição ao glúten antes dos quatro meses de idade, a ausência de amamentação por um período adequado e a infecção pelo rotavírus, por exemplo, aumentam o risco de desenvolver a doença. A exposição ao glúten na presença de amamentação é fator protetor. A maioria dos indivíduos que portam os genes que estão associados a doença jamais a desenvolverão. Há países onde a prevalência da doença é o dobro de outros. Assim, podemos dizer que uma combinação de fatores genéticos e ambientais está presente na gênese da doença.
2) A falta do glúten na alimentação pode causar alguma deficiência no organismo?
Não, certamente há uma vasta variedade de fontes proteicas alternativas para o ser humano, as dietas de substituição são muito eficazes.
3) O glúten pode ser substituído por outras proteínas?
Sim, sem problemas. Há uma grande variedade de alimentos que podem ser utilizados para conferir correta nutrição e prazer à alimentação do paciente celíaco.
4) Quais os sintomas da doença?
Há um aspecto clínico de apresentação amplo. Nas crianças pequenas: distensão, diarreia e baixo crescimento são mais comuns, com o passar dos anos os sintomas extra-intestinais podem tornar-se mais presentes, como baixa estatura, anemia, manifestações neurológicas. No adulto a diarreia, acompanhada ou não de desconforto abdominal, é uma apresentação clássica, mas muitos terão apenas anemia, osteoporose precoce e queixas abdominais vagas. Menos frequentemente teremos perda de peso, dor abdominal, alterações de transaminases, dermatite herpetiforme e alterações neurológicas.
Cumpre frisar que um grande número de pacientes não apresenta diarreia crônica ou perda de peso. Para um correto diagnóstico o médico deve ter um elevado grau de suspeição, o que obviamente decorre do conhecimento prévio sólido acerca da doença.
5) Ela tem cura? Como ela pode ser tratada?
A dieta sem glúten leva á cicatrização da mucosa intestinal, remissão dos sintomas e prevenção das complicações. Em até 30% dos pacientes não há melhora consistente, a maioria destes por uma aderência parcial (consciente ou não) da dieta. Deve-se então efetuar correção da dieta se a melhora não ocorrer.
Exceto pela dieta, com a doença em remissão completa, o indivíduo tem uma vida absolutamente normal, caso não haja outras doenças auto-imunes presentes. Há maior prevalência de diabetes tipo I e tireoidite de Hashimoto, por exemplo, entre celíacos.
6) Quais as consequências para quem não trata?
O não tratamento pode ter consequências clínicas graves, tais como: anemia crônica, desnutrição, déficit de crescimento (em crianças), osteoporose precoce com maior tendência à fraturas ósseas, maior risco de adenocarcinoma intestinal e maior risco de linfoma de células T intestinal.
7) Quais os principais sinais para que as pessoas procurem ajuda médica para se tratar?
Anemia, perda de peso anormal e diarreia prolongada.