Eleny sempre sonhou em formar uma família. Do encontro com o professor e engenheiro, nasceram seus 4 filhos: Dalton, Davi, Denis e Daniel. Ficou viúva aos 37 anos, com os filhos entre 6 e 13 anos e, depois de 03 anos se casou com o Pastor Gavin Levi Aitken, missionário americano no Brasil, que trouxe mais 2 filhos para aumentar a turma: Todd e Aimee.
Além deles, a música aparecia como elo. Em certo dia, aos 42 anos, seu companheiro passou mal, era o presságio de uma mudança brusca e inesperada de ciclo. Eleny tentou ressuscitá-lo, mas não conseguiu. O casamento havia acabado como no juramento - separados apenas pela morte. Foram 16 anos de união. Perdida, se apegou na fé para retomar à vida, encontrou apoio e mãos estendidas. Mas não só. Em um dia comum, encontrou um novo amor. Depois do sim, a família cresceu – hoje é avó de 11 netos e quase bisavó.
Ao Universo de Rose ela fala sobre o percurso que precisou enfrentar - do luto ao novo amor. Confira! !
Universo de Rose – Eleny, quando jovem, você sonhava com o casamento tradicional?
Eleny Vassão – Criada em uma família tradicional, evangélica, frequentando e trabalhando muito na igreja, eu sonhava com um casamento tradicional, com o “até que a morte nos separe”.
UR – Lembra do que sentiu ao conhecer o seu marido?
EV – Meu marido era professor e engenheiro, membro da igreja, e tocava muito bem violão, o que me encantou. Sonhei, sim, em construir com ele uma linda família.
UR – Quais eram os gostos comuns? E as maiores divergências entre vocês?
EV – Nossos gostos comuns eram a música, o interagir com pessoas de diferentes contextos e o participar das atividades em diferentes áreas na igreja. As diferenças principais eram: eu, muito calma, e ele, bastante explosivo. O que, muitas vezes, provocou momentos difíceis.
UR – Vocês falavam sobre a morte ou evitavam o tema?
EV – Nós nos julgávamos jovens para falar sobre a nossa morte. Eu, como capelã do Hospital das Clínicas e do H. Emílio Ribas, na época, lidava com a morte dos meus pacientes todos os dias, mas ainda assim, este era um assunto distante da realidade de nossa família.
UR – Aí, você ficou viúva com crianças pequenas. O que foi mais difícil nesse processo de luto?
EV – Fiquei viúva repentinamente, pois ele, saudável, esportista, muito trabalhador, teve um enfarto fulminante aos 42 anos. Mesmo que eu tenha tentado a ressuscitação cardiorrespiratória desde o momento da parada, levando-o para o hospital em seguida, não houve sucesso. Ele morreu. Eu estava com 37 anos, com filhos de 6, 9, 11 e 13 anos. Todos meninos. O mais difícil foi descobrir que eu não poderia desempenhar o papel de mãe e também de pai para eles. Todos sentiriam a falta que o pai faz. Graças a Deus, meu pai e também meu pastor nos ajudaram muito na época. Mas não foi fácil! Outra coisa, foi aprender que o Senhor é realmente o pai dos órfãos e o marido das viúvas, e estreitar o meu relacionamento com Ele, que me deu forças e ajudou a reconstruir a minha vida e família.
UR – O que te dava esperança para continuar a caminhada por aqui?
EV – Em primeiro lugar, a certeza da presença, da soberania e do amor do nosso Deus, que continuaria a cuidar de nós em cada necessidade material e emocional. Em segundo lugar, vê-Lo cuidando dos meus filhos de maneira tão individual, edificando-lhes o caráter com os Seus valores, o que os fortaleceu na sua adolescência, mocidade e na construção de suas próprias famílias, mais tarde. Descobri o Deus que cuida de cada detalhe de nossas vidas, principalmente daqueles que nos parecem impossíveis e inalcançáveis.
UR – Quais ferramentas te ajudaram a superar uma fase tão difícil com tal perda (terapia, família, conversas, amigos, passeios...)?
EV – Em primeiro lugar, Deus, depois meus pais, em seguida meus amigos e pastores. Através de conversas, visitas, telefonemas, passeios e atividades envolvendo toda a família. E foi muito importante a minha continuidade no ministério diário de Capelania nos hospitais, pois eu podia ver Deus agindo nas vidas dos meus pacientes, seus familiares e dos profissionais da saúde a quem aconselhava. Foi importante reorganizar minha agenda, diminuir um pouco as atividades enquanto conversava com os meus meninos e os consolava, mas ainda continuar a trabalhar.
UR – Como você se sentia por ter ficado viúva tão nova?
EV – Eu me senti desprotegida e exposta. Recebi propostas indecentes e tive que tomar muito cuidado para não cair nelas, devido à minha fragilidade emocional. Foi preciso, realmente, depender da força do Senhor, crendo que Ele tinha algo muito especial para a minha vida e a dos meus filhos, e que estava trabalhando nisso o tempo todo. Senti-me desprotegida, também, na área financeira. Como educar 4 meninos, mantendo-os em uma escola particular, e cuidar de todas as suas necessidades? Mas Deus foi cuidando de cada uma destas, através da escola, de amigos, dos meus pais. Fui aprendendo a confiar e perdendo o medo.
UR – Em que parte você se abriu para viver um outro relacionamento?
EV – Cerca de 2 anos depois, ao reencontrar meu amigo Gavin, a quem eu muito respeitava e o tinha como parte da Diretoria da Capelania. Ele, missionário e pastor americano vivendo no Brasil, já era excelente ensinador, a quem tinha aprendido a admirar por seu caráter. Então, ele também ficou viúvo, tendo um casal de filhos entre a adolescência e a juventude. Mesmo que o considerasse “muita areia para o meu caminhãozinho”, fui em frente. Mais tarde, descobri que ele também me considerava assim. Da amizade, admiração e confiança, nasceu o amor. Nos casamos depois de 1 ano, e Deus uniu todos os nossos filhos, que se consideram irmãos. Todos eles choraram muito, anos mais tarde, quando perdemos repentinamente nosso filho mais velho, Todd.
UR – Em que situação (emocional) você estava quando surgiu um novo relacionamento?
EV – Estava mais inteira, e aguardando, pois tinha plena confiança que Deus me levaria a um novo casamento. Quando Gavin e eu nos reencontramos na Estância Palavra da Vida, lugar comum para os dois, onde ele dava estudos nos períodos de férias e aulas para os seminaristas, e minha família passava todas as férias na casa de campo dos meus pais, Deus “acendeu os nossos sensores” e nos deu espaço para continuarmos a conversar, agora de forma diferente, focada numa amizade que seria muito mais envolvente, profunda e permanente. Uma cumplicidade de vida, cultivada a cada dia.
UR – Sentiu apoio ou julgamento das pessoas ao seu redor quando o assunto foi viver um outro casamento?
EV – Alguns olharam “de banda”, outros incentivaram, outros temeram por ele estar assumindo, além de uma nova esposa, mais 4 meninos no início da adolescência.
UR – E aí veio aquela famosa frase: “Os meus, os seus, os nossos...”. Como vocês lidaram com uma virada tão grande?
EV – A integração entre os filhos foi surpreendentemente imediata. Brincavam e conversavam como se tivessem crescido juntos. Um milagre de Deus! Ao mesmo tempo, como pais, Gavin e eu fomos aprendendo a lidar com cada um deles pouco a pouco, e continuamos a fazê-lo, como em todas as famílias. Mas Deus nos deu uma nova e linda família. Meio time de futebol!
UR – Qual mensagem você deixaria para as viúvas com filhos, sem filhos e que estejam totalmente desesperançadas?
EV – Um novo casamento não é para todas, pois Deus tem um plano para cada pessoa, e quando “forçamos a barra”, as coisas podem ficar estremecidas e ainda mais doloridas. Creio que o que cada uma de nós tem que fazer é “grudar” em Deus, estreitando o relacionamento com Ele de maneira prática, vivencial, em cada detalhe, pois somente Ele pode preencher o vazio de nossos corações. Não são outras pessoas, pois elas, muitas vezes, nos decepcionam e frustram. Quando eu ainda estava “lúcida” emocionalmente, com o coração não apaixonado e capacidade de pensar mais racionalmente, uma tia querida sabiamente me aconselhou a fazer uma lista das qualidades e valores que gostaria de ver no meu cônjuge, descrevendo-as em detalhes. Depois, que a colocasse diante do Senhor em oração e aguardasse, sem ansiedade. Foi impressionante, depois de alguns meses de namoro com o Gavin, descobrir esta listinha dentro de uma das minhas Bíblias e ler, admirada, cada um de seus itens, vendo que o Gavin tinha todas as qualidades e valores que estavam ali descritas. Não é lindo?