“Saudável, nunca teve problemas com doenças, era atleta, magro, andava para todo lado de bicicleta”. É assim que Stella descreve seu então companheiro por mais de trinta anos, Carlos Ribeiro, dono de um comércio em que eles trabalhavam juntos. Ele sempre visitava os clientes de bicicleta. Numa dessas vezes, começou a se sentir mal foi para o hospital que de cara, ficou um mês, tratando dos rins. Na volta pra casa, após um ano de tratamento árduo, inclusive, com a ajuda da família, Carlos faleceu pouco tempo depois.
Ao Universo de Rose, Stella conta como lidou com a perda do companheiro e como encontrou a esperança para continuar nesse período tão difícil de sua vida.
Universo de Rose – Stella, como você conheceu seu marido?
Stella Ribeiro – Conheci o Carlos através dos tios dele que eram amigos dos meus pais.
UR – Lembra do que sentiu ao conhecê-lo?
SR – Quando a gente se conheceu fiquei encantada porque ele era muito educado, gentil e muito inteligente. Sabe aquela pessoa com muito conteúdo?
UR – Quais eram os gostos comuns e as maiores divergências entre vocês?
SR – Os gostos que a gente tinha em comum, não eram muitos a gente gostava das mesmas músicas e estávamos apaixonados. E as maiores divergências era porque ele gostava de acampar com os amigos na praia ficava muito tempo fora.
UR – Mas vocês tinham algumas coisas em comum nos fins de semana...
SR – Sim. Nós trabalhávamos juntos na loja, praticamente o dia todo mas todos os domingos tomávamos café na cama. Ele dizia: “fica aí que eu já volto logo ele vinha com uma grande bandeja que ele preparava com um super café; nós tomávamos o café assistindo tv. Ele sabia que eu gostava de chocolate, ele mostrava o chocolate eu lutava com ele até conseguir pegar o tal chocolate, aí nos ríamos muito e dividíamos.
UR – Vocês falavam sobre a morte ou evitavam o tema?
SR – As vezes a gente conversava sim sobre a morte, principalmente quando alguém da família ou amigo morria.
UR – E aí, veio a doença...
SR – Dia 7 de novembro de 2010 ele saiu para atender um cliente, voltou passando muito mal tremia muito, corri com ele para o hospital, achei que estava infartando, chegando no hospital logo foi atendido com suspeita de infarto. Foi medicado e ficou internado em observação. No dia seguinte fui no hospital ele estava na UTI quando entrei, ele fazendo hemodiálise, perguntei porque ele estava fazendo isso, o médico me disse que não era o coração, eram os rins, a pressão alta estourou o filtro dos rins; foi horrível o médico me dizer que ele teria que fazer para o resto da vida dele.
UR – Como foi esse período de luta pela sobrevivência?
SR – Ele ficou um mês no hospital, quando saiu começou a tortura de ele ter que fazer hemodiálise, ele nunca se conformou foi um ano muito difícil para mim e para minha filha Daniela. Ela saiu do emprego para me ajudar e o esposo dela nos deu muita força. Ai no começo de novembro de 2011 ele fez uma cirurgia para fazer hemodiálise em casa, fomos contra mas ele quis aí ele pegou uma infecção foi internado e no dia 17 de novembro 2011 ele veio a óbito. Foi um dia muito triste!!!
UR – O que foi mais difícil no processo de luto?
SR – Quando ele morreu fiquei em choque não sabia o que fazer não imaginava que ele ia morrer, sabia que estava doente mas não ao ponto de pensar que ele iria morrer. Toda minha família sofreu muito, eles amavam o Carlos, foi uma grande perda eu chorava todos os dias. O mundo desabou na minha cabeça, nos dias que seguiram foram muito difíceis desmanchar minha casa. Fui morar com minha mãe que também era viúva, ela me deu muita força, minhas filhas eram casadas, tinham suas vidas, tive que ser muito forte, porque nós tínhamos um comércio e precisava continuar, não foi nada fácil mas Deus me consolou e me deu forças para continuar.
UR – Vocês tiveram filhos? Como foi pra eles, o que te deu esperança para continuar?
SR – Sim tivemos duas meninas, elas sofreram muito, o que me deu esperança alegria foi o nascimento da laly minha neta querida que me trouxe muita paz.
UR – Quais ferramentas têm te ajudado até aqui (terapia, conversa, amigos, passeios...)?
SR – Olha o meu trabalho me ajudou muito, conversas com amigos, passeios e muita oração.
UR – Qual mensagem você deixaria para outras viúvas?
SR – O que eu diria para elas, que não é fácil perder um companheiro de muitos anos, a gente olha a cama vazia ter que aprender a viver sem essa pessoa. Eu chorei demais, mas o tempo é o melhor remédio, vai doer, vai mas a dor vai amenizando, eles cumpriram o ciclo de vida deles, nós temos que cumprir o nosso porque a vida continua.
UR – Como você se sente por ter ficado viúva ainda nova?
SR – Eu me senti frustrada, nossas filhas estavam casadas - uma fora do Brasil. Estávamos só nos dois como começamos éramos muitos jovens quando casamos. estávamos nos curtindo de novo.
UR – Você se sente aberta, preparada para viver um outro relacionamento?
SR – Faz 11 anos, eu sofri muito, sentia muita falta dele, nunca quis me envolver de novo com alguém. Recentemente conheci alguém, estamos conversando não sei o que vai dar, mas estou feliz.
UR – Você recebe apoio ou julgamento das pessoas ao seu redor quando o assunto é viver um outro relacionamento?
SR – Recebo muito apoio da minha família, principalmente das minhas filhas.
UR – Como você lida com o seu luto, hoje, após alguns anos?
SR – Não vou dizer que esqueci meu marido, porque é impossível já que vivemos mais de trintão anos juntos, mas hoje eu já superei o luto já não sofro mais quando penso na morte dele, sei que está com Jesus e foi a vontade de Deus.