O novo governo tem que enfrentar a inflação. Ela não é privilégio do Brasil. O mundo todo passa por uma crise e os preços dos produtos não param de subir. A crise provocada pela guerra na Europa, dificuldades de exportação de manufaturados e ameaças de novos conflitos encarecem os produtos. Ninguém escapa da crise econômica e financeira global. A alta do custo de vida atinge principalmente as grandes cidades brasileiras, onde o poder de compra fica cada vez mais frágil. Há inquietação nos assalariados de maneira geral e a esperança de um aumento dos salários, principalmente do salário mínimo, é frágil. A oferta de empregos com carteira de trabalho assinada está em queda e com ela o poder aquisitivo dos salários. O governo federal procura uma estratégia para combater a inflação. O Congresso Nacional, recém-eleito, se predispõe a aprovar um plano, desde que contemple as regiões mais pobres do país.
Há um debate sobre quem deve ser o financiador dos grandes projetos de infraestrutura e energia. O governo anterior desenvolveu um capitalismo de estado e buscou apoio principalmente na burguesia nacional. Contudo, parte do governo é favorável à participação do capital internacional, uma vez que o volume de recursos necessários não está disponível no Brasil. Buscar ou não investimentos estrangeiros no setor de geração de energia, exploração e refino de petróleo, desenvolvimento das malhas ferroviária e rodoviária? A opinião dos políticos está dividida e cada lado apresenta os seus argumentos. Há certa radicalização de parte a parte. Ao governo cabe apresentar um grande projeto no Congresso Nacional e esperar que seja aprovado. Há sustentação política para isso, principalmente dos partidos liberais, constituídos por representantes da indústria e do agronegócio. É verdade que o custo do capital internacional é elevado, mas não há outra opção. Cabe ao presidente decidir.
Planos econômicos abrangentes estão na moda no mundo. Quer na Europa, quer na Ásia. Diante dos escombros provocados pela guerra, não há outra saída possível. Nem mesmo os Estados Unidos estão fora. Os presidentes democratas dedicam boa parte do seu esforço para manter a influência do Estado na economia. Diante deste quadro, o presidente do Brasil reúne um grupo e apresenta o Plano SALTE. Eurico Gaspar Dutra é o sucessor do ditador Getúlio Vargas, derrubado do poder depois de 15 anos. O plano brasileiro é apresentado ao Congresso por iniciativa de Dutra. Foi aprovado depois de longos debates. É uma experiência brasileira de planejamento federal de âmbito plurissetorial. O objetivo é estimular o desenvolvimento de setores como Saúde, Alimentação, Transporte e Energia – SALTE. Planos dessa natureza precisam de dinheiro e tempo para vingar. O atual governo Dutra não tem nem uma coisa, nem outra. Os créditos internacionais acumulados durante a guerra vão ser alocados no refino, prospecção e transporte do petróleo. Este e energia são os grandes gargalos do desenvolvimento, diz o governo. Contudo o atraso na elaboração e aprovação do SALTE se enrola na campanha presidencial já em efervescência no país. Vargas prepara para voltar ao governo central e nada indica que, se eleito, vai continuar com o planejamento urdido pelo governo anterior.