O dia tinha amanhecido lenta e dolorosamente, sem dar sinais diferentes no horizonte, Ana remexeu timidamente a cabeça, tentando fugir de um raio de sol que teimava em acertar-lhe bem no meio da cabeça, parcialmente coberta.
Com a cabeça então descoberta, custou a abrir os olhos, piscando vagarosamente e depois olhando para o teto, a imaginar sabe-se lá o que, que nem ela podia identificar.
Era mais um dia, o primeiro de uma nova semana, a segunda que começava sozinha. Segurou o braço para que este não se estendesse para o lado e desse de encontro com vazio e o frio do lençol. Já tinha feito isso, agora já se policiava para não repetir a sensação. Para quê? Não fazia sentido. Já sabia o que lá não estava mais.
Devagarinho, após um longo momento estático, foi se levantado, jogando o edredom do lado, tirando uma perna de cada vez, em direção ao tapete; depois sentada à beira da cama, afundou a cabeça entre os ombros e assim permaneceu.
O quarto gélido ia, os poucos, sendo aquecido pelo sol que vitoriosamente vencia o grosso vitrô e a leve cortina off-white, quando de repente a zoada de um passarinho lhe chamou a atenção. Levantou-se, casada e caminhou até à janela e lá entendeu que um filhote, ainda sem penas, havia caído do ninho e a mãe desesperada tentava algo para salvar-lhe.
Como que se um botão tivesse sido apertado, ela saiu de pijama mesmo, para o quintal e com delicadeza pegou do gramado o pequenino e o devolveu para o ninho, enroscado em uma árvore amiga, que molecamente, ela escalou rapidinho.
Já de volta ao solo, observou a mãe saltitante no ninho com o rebento, então uma rajada de vento soprou em seus cabelos, ela olhou para o céu e sentiu força, respirou profundamente, voltando para dentro, milagrosamente resolvida a viver a vida.