Num dia comum, Leticia Puccinelli, saiu para ir à escola. Em seu caminho, apareceria Ricardo. Ele trabalhava embaixo da casa dela, em um escritório. Quando o viu, foi amor à primeira vista. Ela lembra de dizer exatamente isso para uma amiga: esse é o amor da minha vida. Ela não tinha errado. Se conheceram mais a fundo e embarcaram numa relação cheia de companheirismo e afeto. Com uma sintonia muito forte, sempre estavam juntos. Parecia que a única coisa capaz de distância-los seria a morte. Nas conversas sobre isso, falavam do sofrimento de não ter um ao outro. Sobrou à Letícia essa ressignificação e missão de poupar Ricardo desse sofrimento, de viver sem ela. Coube a ela, uma vida sem ele. Abaixo, você acompanha a entrevista que eu fiz com Rose.
Universo de Rose: Você lembra o que sentiu ao vê-lo pela primeira vez?
Leticia Puccinelli: Sim , me lembro que olhei para ele, e só de olhar me apaixonei, eu estava com minha amiga, eu olhei para ela e falei:
- Esse é o homem da minha vida, vou me casar com ele, ela olhou pra mim e deu risada, falou que eu era doida.
UR: O que vocês mais gostavam de fazer juntos?
LP: O que a gente mais gostava em comum era assistir filme, cozinhar, ele gostava muito de cozinhar, a diferença entre nós dois era que ele sempre foi muito nervoso e eu muito calma.
UR: Vocês tinham o hábito de conversar sobre a morte?
LP: Sim, sempre falamos sobre a morte, ele sempre dizia assim:
- Eu não sei viver sem você, eu não aguentaria, então eu quero que Deus me leve primeiro que você, ele sempre dizia isso, eu me lembro que um dia, em uma dessas conversas, ele falou:
- Então vamos ter que morrer juntos para nenhum dos dois sofrer.
UR: O que tem sido mais difícil no processo do luto?
LP: Tudo é difícil, a gente trabalhava e convivia o dia inteiro juntos, fazia tudo juntos, sempre que ele era convidado para ir em algum lugar ele falava:
- Posso levar minha esposa e meus filhos, porque se não pudesse, ele não ia, era sempre assim, se eu falasse estou cansada, vai você, eu não quero ir, ele logo respondia, sendo assim também não vou. Continuar morando na mesma casa é bem difícil, em todo canto eu sinto a presença dele, a casa ficou triste sem a alegria dele.
UR: Como você explicou para os seus filhos a morte do seu esposo?
LP: Meus filhos já eram adolescentes na época que meu esposo faleceu, e eles já entendiam o que era a morte, então não precisei explicar.
UR: O que te dá esperança para seguir?
LP: O que me dá esperança para continuar, e saber que Jesus cristo em breve voltará e eu vou rever meus entes queridos.
UR: Você procurou algum auxílio médico ou terapêutico?
LP: Já fiz terapia. Hoje em dia o que mais tem me ajudado é sair para passear. Lidar com o luto é uma luta constante, como eu disse, eu aprendi que para poder seguir em frente, eu preciso começar a viver um dia de cada vez, e foi assim que fui me recuperando, porque o luto causa uma dor enorme no coração, essa dor me levou a uma tristeza profunda, aos poucos fui aprendendo a conviver com a dor, e sei que a ferida cura, mais as cicatrizes ficam.
UR: Você acha possível se abrir para uma nova relação?
LP: No momento não. Eu fiquei viúva aos 33 anos, hoje tenho 38 anos, e estou sozinha até o presente momento, sinto muita solidão, mas, não estou preparada ainda para conhecer alguém. Sinto o apoio de todos os amigos, e da família, todos torcem pela minha felicidade, e desejam que eu encontre alguém e recomece uma nova história de amor.
UR: O que você pode dizer para outras mulheres que estão em situação semelhante?
LP: Eu posso dizer que fácil sei que não é, na teoria tudo parece que vai funcionar, mas na prática, a coisa muda, mas comece vivendo um dia de cada vez, se você ficar pensando muito no amanhã, você não aguenta. Viva o hoje, tenha constante comunhão com Deus, foque no trabalho, família, filhos, e tenha sempre pensamentos positivos. Nessa vida, todos nós temos uma missão, e quando ela se cumpre, chega o momento de partir, a morte só é uma desculpa, ela chega para todos nós, só que no tempo certo. Eu gosto de dizer que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Me casei muito jovem, vivemos 20 anos juntos, tivemos 2 filhos, Leonardo que hoje tem 22 anos, e a Livia que tem 20 anos. Não me arrependo de nada, faria tudo de novo, se fosse com ele. Foi o grande amor da minha vida.