forças militares nos mares e em terra. Poucos acreditam que um dia um veículo possa voar por seus próprios meios e se tornar uma arma de guerra.
A elite mundial se acotovela na Cidade Luz. Paris está reconstruída depois da última batalha contra os prussianos e atrai investidores, inventores e aventureiros de toda espécie. Ao lado do glamour dos caríssimos perfumes e lançamentos da moda, inventores, nacionais e estrangeiros, disputam prêmios por seus trabalhos. Está na moda a viagem aérea. Os balões são vistos com frequência sobre os céus da cidade, com apenas o piloto. Festivais são patrocinados para que exibam suas máquinas voadoras e prêmios são oferecidos por suas peripécias. Uma viagem que parta de um campo próximo, circule a torre Eiffel, vale uma bolada de dinheiro. Um estrangeiro se apresenta e consegue tal proeza. Santos Dumont fica ainda mais conhecido da cidade, uma vez que tem oficina, hangar e pista de pouso para testar seus balões. Sua figura ganha destaque com o acidente do balão que pega fogo, o relógio que mandou Cartier amarrar no seu pulso e o chapelão branco. Le bresilien. Rico e inventivo parte para a construção de uma aeronave, movida por um motor e com grandes asas. Voa no Campo de Bagatelle sob o aplauso de uma multidão. Está aberta a oportunidade para uma indústria de avião.
Investidores acreditam na start up que fabrica bicicletas. São as rodas perfeitas para uma aeronave. Todos sabem disso, inclusive os irmãos Wright. Fazem provas com planadores testados na Alemanha. Da fábrica de bykes sai um motor capaz de impulsioná-lo. Os inventores voam em 1903, e se fecham em copas. Os segredos são guardados a sete chaves e os pedidos de patente são imediatos. Há inúmeros exemplos de patentes, como o telégrafo sem fio patenteado por Marconi, considerado o inventor do rádio. O brasileiro Landel de Moura não teve a mesma sorte do italiano com investimentos britânicos. Imbuídos pelo capitalismo, os “brothers” fundam a Wright Company para fabricar e aperfeiçoar o avião. O mercado americano se abre para uma indústria que pode gerar polpudos lucros. Os modelos se sucedem e as vendas batem 120 aparelhos. Enquanto Paris vive os dias de Belle Époque com o crescimento das pesquisas científicas, novas fábricas e busca por novos mercados, os norte-americanos partem da invenção da Wright Company para a abertura de novas empresas de aviação. Essa indústria só se desenvolve no Brasil na segunda metade do século 20.
*Heródoto Barbeiro é jornalista da Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Apresentou o Roda Viva da TV Cultura e o Jornal da CBN. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Acompanhe-o por seu canal no YouTube “Por dentro da Máquina”