Dá prestígio ter um encontro com o papa. E votos. Chama a atenção da comunidade católica de todo mundo. O impacto é maior no Brasil que, por tradição, até escolheu o catolicismo como religião oficial do Estado no período imperial. Só com o advento da República houve a separação entre a Igreja e o Estado. Ainda assim, a figura do papa tem uma força simbólica forte, haja vista que os evangélicos ainda se organizam em várias confissões. Até a década de 1970, nos eventos governamentais, dava-se destaque a um representante da igreja católica. O mestre de cerimônia anunciava a presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas. Com isso se obtém o apoio de toda a hierarquia católica, especialmente nas pequenas cidades do interior do Brasil. Por isso, o encontro do papa com o presidente tem um caráter de suma importância para a diplomacia brasileira. Afinal, o papa é um chefe de estado.
O debate político-ideológico também permeia as relações da religião e o Estado. Há uma perseguição contra membros do clero católico, que ou são presos ou são expulsos sem data para voltar. A acusação da direita é que os regimes de esquerda, principalmente inspirados na ideologia de Marx e Engels, acusam a religião de ser o ópio do povo. O anticlericalismo migrou da direita para a esquerda. A igreja é rotulada de conservadora, aliada dos poderosos, sejam eles grandes proprietários de terras, industriais ou banqueiros. Contudo, há um sopro de mudança na igreja latino-americana com o advento da chamada Teologia da Libertação, ou seja, uma aliança com os mais pobres das cidades e do campo. Uma guinada de parte do clero católico para a esquerda.
O papa lidera o combate ao comunismo. Afirma que o marxismo é contrário à doutrina cristã e ao direito natural. João Paulo II é polonês, e seu país de origem é um dos satélites da União Soviética, que mantém bispos e cardeais presos. Vem ao Brasil em uma visita de 12 dias. Chega a Brasília com o currículo de anticomunista e participante da Guerra Fria. Seu discurso em Varsóvia para meio milhão de poloneses foi de apoio ao sindicato Solidariedade, que pregava a independência do país da União Soviética. Karol Wojtyla viaja por 13 cidades brasileiras e percorre 30 mil quilômetros. O encontro dele com o presidente João Figueiredo, o quinto general governante desde 1964, não colabora para consolidar o regime. O Brasil marcha para a eleição de um civil e a redação de uma nova Constituição que garanta o estado democrático de direito.