Fica claro o embate entre o governador e o presidente. A relação política entre os dois durou muito pouco tempo. Para ser exato, um ano e meio. A aliança política que possibilitou a ascensão do presidente é um castelo de areia branca e o governador não hesita em chutar toda vez que se vê diante da mídia. É uma guerra que se disputa diante da opinião pública e o bom senso, ou os interesses nacionais são postos de lado. O que vale mesmo é a conquista do poder. O governo federal se vê às voltas com o fortalecimento dos estados e lembra o período da república velha, quando São Paulo e Minas Gerais ditavam como o Brasil deveria ser conduzido. Sempre à favor de uma camada privilegiada da população. Os miseráveis servem de massa de manobra ora de um, ora de outro e torcem por seus ídolos com o mesmo fervor que torcem para os seus times de futebol do coração.
O chefe do executivo avisou várias vezes o governador que ele tem a caneta na mão e pode decidir muita coisa. Por sua vez o governador paulista se escora na mídia, nos industriais e nos partidos nanicos enfileirados e lubrificados com verbas na Assembleia Legislativa estadual. Quem pode mais, chora menos. O governador se apresenta como um homem religioso, fotografado em missas, sempre de paletó e gravata e não abandona o ritual do cargo jamais. Anda sempre cercado por policiais e sua confortável mansão tem sempre uma viatura para proteger a primeira dama e os seus filhos. Nada tem a temer. Construiu um bom empreendimento industrial, tem participação societária e várias empresas, e mesmo na televisão. Além disso tem as polpudas verbas publicitárias para convencer veículos ao seu favor. É verdade que nem todos, um grupo jornalístico faz-lhe oposição cerrada e divulga em seus editoriais coisas desabonadoras a respeito do chefe do executivo paulista. Usa adjetivos pesados e não esquece sua origem e como amealhou a grande fortuna que possui.
O presidente tem o apoio dos militares. Ele foi guindado ao posto para combater a corrupção e inviabilizar a transformação em um país comunista como Cuba. Pelo menos é isso que diz sempre tem oportunidade de juntar apoiadores no palácio presidencial e não raro se deixa fotografar cercados pelas mais altas patentes do exército. A crise chega a um ponto insuportável. O presidente marca uma reunião do ministério e assina e anuncia a cassação de vários políticos, entre eles o do governador de São Paulo. A cassação é apoiada no Ato Institucional 2, baixado com o objetivo de blindar o regime e estabelece eleições indiretas para presidente e dá carta branca para que Castelo Branco casse os direitos políticos de qualquer cidadão. Faltam oito meses para que Adhemar de Barros complete o mandato. Foi um dos articuladores do golpe civil-militar que depôs o presidente eleito João Goulart. Mal sabia que seria vítima de um regime discricionário que ajudou a enredar. Perde o palácio mas não a fama. Ainda é lembrado, mesmo fora da política, como o Rouba mas Faz.