Ninguém ousa bater de frente com o ministro da economia. Nem o próprio presidente da República, que é um militar do Exército. Este já deixou claro aos que o elegeram que não entende de economia e prefere deixar a política econômica nas mãos do ministro. Isto provoca um descontentamento no ministério uma vez que há uma disputa clara pela posse do poder. Todos são potencialmente candidatos a presidente na próxima eleição. Portanto, desgastar o ministro da economia é ter um adversário a menos, uma vez que tem contra ele parte da elite política do país. Há pelo menos dois desafios a serem vencidos: equilibrar as contas públicas deficitárias originárias do governo anterior e estabelecer uma meta para o desenvolvimento do Brasil. As propostas são muitas, mas o governo é frágil e cada vez que se divulga uma meta, vem uma enxurrada de críticas por meio da imprensa. Alguns artigos são assinados, mas a maioria é de fontes que os jornalistas não divulgam a pedido das mesmas. Enfim, ninguém arrisca determinar o prazo que o ministro da economia vai ser mantido no cargo. Depende única e exclusivamente do presidente, uma vez que a Constituição da República diz que o ministério pertence a ele, que nomeia ou destitui a seu bel-prazer.
A economia nacional está alicerçada no agro. A exportação de produtos agrícolas é a salvação da frágil balança comercial. E os proprietários de grandes fazendas sabem disso. Querem uma política de favorecimento ao campo com financiamentos públicos e apoio para a conquista e manutenção dos mercados especialmente da Europa e Estados Unidos. Todavia, setores urbanos acusam o agro de ser responsável pelo subdesenvolvimento do Brasil. Debatem na mídia que, com a divisão do trabalho global imposta pelo capitalismo liberal, sobrou para o país a condição de exportador de produtos primários, sem valor agregado, e a importação de bens industrializados de alto valor. Saem dos portos navios carregados de café em troca de uma chalupa de máquinas e equipamentos. As classes médias burguesas, concentradas especialmente nos centros urbanos, repetem exaustivamente que a agricultura é a desgraça do país. É preciso implantar um clima favorável de negócios, estímulos e financiamentos para a abertura de empresas, contratação de técnicos no exterior que possa capitanear um salto na industrialização do Brasil, assim como fazem outros países. Há evidentemente um choque de visões que se cristalizam nos partidos políticos que disputam a presidência da República. O governo tem o poder na mão e pode impor o que julgar melhor para o Brasil.
Vence o ministro da economia. Ele apresenta um plano para a abertura de fábricas, oferta de empregos e expansão do mercado interno. Não leva em conta que a maior parte da população do país é de baixíssima renda e quase sem nenhum poder aquisitivo. Os fazendeiros e a burguesia não têm condições de manter um bom nível de consumo. Há um detalhe: qual será a origem do capital para bancar essa industrialização almejada pelo ministro da economia com o apoio do presidente militar? Algumas ferrovias foram bancadas por capitais nacionais e estrangeiros. A saída, segundo o ministro, está na Bolsa de Valores. O processo é registrar uma empresa na burocracia, emitir um bom volume de ações e oferecer a quem quiser investir na Bolsa de Valores da capital do Brasil. O douto jurisconsulto Ruy Barbosa, ministro da economia, é o pai do projeto. Sua estratégia é baseada no estímulo ao consumo e no desenvolvimento da indústria nacional. Assim, os bancos são estimulados a liberar créditos sem exigir grandes critérios ou avaliar a condição de pagamento por parte dos tomadores de empréstimos. Há um estímulo ao crescimento econômico e, para isso, o governo incentiva a emissão de papel-moeda, necessário para impulsionar a industrialização e modernização do país, por meio da expansão da indústria, agricultura e comércio. Isto deu certo nos Estados Unidos, por que não daria certo no Brasil? Não deu.