Em evento, Pesquisa revela como idosos encaram o avanço da idade
Em um passado não muito distante, atingir a classe denominada “Terceira Idade” era motivo de preocupação para muitas pessoas, mas tal perspectiva tem mudado positivamente, transformando essa fase em um novo ciclo cheio de descobertas e aprendizado.
A Bayer em parceria com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia realizaram uma pesquisa inédita sobre o significado de envelhecer para os brasileiros entender se eles estão se preparando para chegar à maturidade plena e como encaram essa fase da vida. Os resultados foram divulgados exclusivamente em evento que aconteceu no dia 25 de outubro no Villa Bisutti, Vila Olímpia, em São Paulo, Capital.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBG E), a expectativa média de vida do brasileiro é de 77 anos. De 1940 a 2020 a expectativa terá aumentado 167%, isso porque há uma redução das taxas de natalidade e número de óbitos – uma tendência mundial.
De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), envelhecer é um triunfo do desenvolvimento. Hoje, a população acima dos 65 anos no Brasil representa 8% do total de 206 milhões de habitantes e a expectativa de vida para os nascidos entre 2015-2020 é que eles cheguem aos 72 anos, no caso dos homens, e 79 anos, no caso das mulheres.
O encontro avaliou tais perspectivas e contou com a participação do médico especialista em envelhecimento, Dr. Alexandre Kalache, que dirigiu por 14 anos o Programa Global de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) e hoje preside o Centro Internacional da Longevidade Brasil, no Rio de Janeiro e da Dra. Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) – Seccional São Paulo e coordenadora do Ambulatório de Transição de Cuidados da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Unifesp.
Para integrar a banca e trazer à tona experiências próprias com relação à maturidade, estiveram presentes a jornalista Márcia Neder, autora do livro “A Revolução das 7 mulheres – um perfil da geração 50+ que está reivindicando e reinventado a maturidade” e Marília Gabriela, apresentadora, escritora, atriz e também jornalista que de forma bastante humorada contou sobre a vida depois dos 60 anos e a visão que tem de si mesma nesta fase, sem se deixar cair nos estereótipos da idade.
Segundo a pesquisa, homens e mulheres com mais de 55 anos com vida ativa não só vivem mais, como vivem melhores. As atividades mais citadas para alcançar o envelhecimento saudável foram: visitar o médico uma vez por ano (37%) ou mais de uma vez por ano (51%); praticar exercícios físicos uma ou duas vezes por semana (38%), três a quatro vezes (22%), mais de quatro vezes (12%) ou estar matriculados em uma academia (36%); se alimentar de maneira correta (68%).
“O Brasil vai envelhecer a sua população sem chegar ao desenvolvimento pleno. O aumento do número de idosos ocorre em razão da diminuição da taxa de fecundidade”, afirmou Dr. Kalache. Ele ressaltou os quatro capitais necessários para envelhecer com qualidade de vida: saúde, conhecimento, social e financeiro. “A pessoa que ao longo da vida toma medidas para prevenir doenças crônicas terá um melhor envelhecer. Quanto mais cedo começar a tomá-las, melhor. Mas nunca é tarde demais”, disse.
“A melhor palavra que rima com longevidade é solidariedade”, disse o gerontologista ao citar o contraste entre os brasileiros que estão envelhecendo bem e os que não têm essa oportunidade devido às desigualdades sociais. Ele salientou a importância de estimular a interação entre todas as gerações.
Conforme Dra Maísa Kairalla, “é necessário o planejamento para entender o envelhecimento e mudar esse pensamento acompanhado por estigmas que precisam ser quebrados. Quem escolhe como envelhecer somos nós mesmos; envelhecer é uma realidade e precisamos nos preparar. Levando em consideração que a população idosa brasileira triplicará até 2050, chegando a mais de 66 milhões de pessoas, segundo o IBGE, é fundamental ter atenção quando o assunto é o envelhecimento ativo e saudável. O idoso precisa ser autônomo, independente e praticar atividades que tragam propósito ao seu dia-a-dia”, acrescentou.
“Temos que empoderar esse idoso mostrando que ele é importante. Não existe uma pessoa de 100 anos que seja completamente independente, quanto mais velho mais aparecem às dependências, mas é possível minimizá-las. Mesmo que o envelhecimento faça parte de um processo natural do ser humano, que tem início desde o nascimento, ele ainda é acompanhado por estigmas e preconceitos que precisam ser quebrados”, reforça.
Para a jornalista e autora do livro ‘A revolução das 7 mulheres – um perfil da geração 50+ que está reivindicando e reinventando a maturidade’, Márcia Neder, essa mulher na sociedade seria uma locomotiva. “Estou falando da mulher que liderou a revolução feminina nos anos 60, que construiu uma vida completamente diferente das gerações anteriores”, disse.
“Elas chegam na maturidade e não gostam do que vêem, de como a sociedade encara a maturidade e a velhice. A partir daí ela arregaça as mangas e começa outra revolução para mudar isso, mostrando que existe uma série de preconceitos totalmente equivocados em relação ao envelhecimento. Essa mulher que foi forjada na desobediência luta e não vai ficar parada, não vai se omitir buscando novos caminhos”, analisou.
Márcia Neder ressaltou que a velhice deve ser encarada com positividade e que chegar nessa fase da vida é um privilégio. “Nós temos que almejar a longevidade porque o contrário disso é morrer jovem. A sociedade precisa tirar esse pensamento de velhice do gueto”. Ela ainda afirma que “na velhice, a vontade e o tesão são colocados em outro lugar. A gente descobre um monte de tesões diferentes, que não são necessariamente sexuais", finalizou.
Aos 69 anos, a jornalista Marília Gabriela afirmou que “envelhecer com qualidade é ter saúde. Envelhecer é um processo que começa na juventude, há grande possibilidade de conhecimento e medidas práticas que você insere no cotidiano que te ajudam a lidar melhor com a longevidade, mas o processo é inevitável”, comenta.
“Ninguém fica feliz ao perceber os traços da velhice no próprio corpo."Eu tinha 35 anos quando me senti velha pela primeira vez, foi quando eu encontrei um fio de cabelo branco. Foi aquele desespero no primeiro momento. Até que uma amiga confirmou e disse que isso é algo que só a gente percebe", lembrou Gabi. “Eu não sou apaixonada pela minha imagem, nunca fui. Eu lido bem com o que me tornei, eu não vou me aborrecer, estou muito contente com tudo. Mas envelhecer é uma porcaria. Envelhecer fisicamente não é agradável e é isso o que estamos falando aqui.”, salientou.
E com aquele bom humor que lhe é peculiar, Gabi filosofa que "O ideal seria escolhermos uma idade, sei lá, 36 ou 37 anos, congelar aquela cara e ficar com ela para sempre. Eu só me olho no espelho quando necessário, quando me arrumo. E meu banheiro é cheio de espelhos, feito por um arquiteto, mas eu realmente não sou apaixonada por me enxergar. E tem os cremes, os cosméticos, que eu realmente gosto bastante. Um ex-marido falava para mim: 'você já gastou um carro em cremes', ele brincava com isso, mas eu uso bastante, sim (Risos).".
Sobre como sobreviver adequadamente ao envelhecimento, Marília disse que começou a se desapegar aos poucos da sensação e da impressão de importância e em que as pessoas sempre esperam algo de você. “Eu cheguei a esse raciocínio e hoje tenho o privilégio de escolher parar. Então resolvi me dedicar mais a outras coisas em minha vida e também escolhi parar de depender da opinião alheia. Estou me dedicando ao teatro e tenho outros projetos, mas sem a necessidade da obrigação, e isso é maravilhoso. Eu gostei muito da minha carreira e do que fiz, mas não quero mais ter o compromisso que nos escraviza durante boa parte da nossa vida. Comecei a me desapegar aos poucos”, disse a apresentadora.
“Envelhecer bem, para mim, é ter saúde. É não ter dificultadores para ir e vir, poder se exercitar, comer bem, dormir e acordar bem, minimizar efeitos de excessos, isso é envelhecer bem, para mim. "Eu faço pilates todos os dias, bebo muita água e tomo um café da manhã maravilhoso, com frutas e pães, como de três em três horas e janto com parcimônia. Então eu me alimento muito bem. E eu resolvi sair da TV porque cansei. Minhas obrigações, hoje, eu estabeleço com prazos de duração.", explica Gabi sobre seus cuidados para chegar à maturidade plena.
E quando questionada sobre sua vida sexual, Gabi não deixou por menos e disparou: “Após entrar na terceira idade, a minha libido baixou consideravelmente, apesar de eu repor hormônios, etc. e tal. Fico fascinada quando vejo mulheres de idade dizendo que têm um fogaréu, uma libido enlouquecida. Tive uma vida sexual muito ativa. Eu namorei muito, casei muito, tive uma vida sexual ativíssima sempre, mas de uns tempos para cá eu não gosto tanto [de sexo] quanto sair para conversar com os amigos, ir ao teatro, ao cinema, jantar... volto para casa e durmo satisfeita. Isso não é tão mais importante quanto sair com amigos e dar boas risadas. Eu espero que a minha velhice, aqui assumida, possa servir de utilidade para outras pessoas”, concluiu entre aplausos e risos de jornalistas presentes de todo o Brasil.