Nascida em Goiânia, Cristiana dos Santos Mendes Lôbo se formou em jornalismo na Universidade Federal de Goiás. Com passagens por jornais, TV, sites e blogs, ela acompanha a política brasileira desde 1982. Cobriu os governos de João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, comenta os bastidores de Brasília, as decisões do governo federal e as negociações com o Congresso. É palestrante de assuntos políticos e mercado financeiro.
Cristiana Lôbo (chamada carinhosamente de “Loba” pelos colegas),está acostumada aos vendavais de notícias que assolam o Planalto Central. Nesses quase 40 anos de carreira, ela que já passou por veículos Folha de Goiás, O Globo, O Estado de S. Paulo, Jornal de Brasília, desde 1998 transformou-se em porta-voz da GloboNews sobre as informações que rodeiam o centro do poder. “São muitas notícias e reviravoltas num dia só. E, como estou em Brasília, tento explicar o que está acontecendo em nosso país. Isso às vezes começa bem cedo e só termina no fim do dia”.
Cristiana Lobo e Gerson Camarotti comandam grande parte do noticiário político Foto: Reprodução
Vencedora da categoria “Comentarista ou Colunista de TV” da 11ª edição do Troféu Mulher IMPRENSA, a jornalista angariou 28% dos mais de 81 mil votos da premiação. Para ela, o resultado nada mais é do que reflexo de sua exposição na TV devido ao momento conturbado da política nacional. “Acho que a crise do país acaba dando uma exposição maior aos jornalistas que acompanham a política. E na GloboNews, que tem o slogan ‘Nunca Desliga’, isso acontece de forma ainda mais intensa”, diz.
Cristiana vê o Troféu Mulher IMPRENSA como “mais uma forma de reconhecer o desempenho das mulheres que precisaram trabalhar muito para chegar lá”. Não existem fórmulas prontas que possam resumir sua trajetória, mas ela dá uma dica: “Só vivendo muito para ver tudo o que já vi”. Bem-humorada, a nossa conversa ocorreu enquanto Cristiana Lôbo aguardava para entrar na festa da premiação, recentemente. Veja o que ela conversou com o Universo de Rose – rotina, jornalismo e o que rola por trás dos bastidores... Confira!
Univero de Rose – Cris, como foi seu início na Carreira de jornalista?
Cristiana Lôbo – Ainda na capital do país, fui repórter setorista de vários ministérios por dois anos. A experiência valeu uma visão detalhada de cada pasta. O desafio seguinte foi cobrir o Palácio do Plabalto. Em 1984, um novo rumo na carreira: o Congresso Nacional. Aproveitei para conhecer de perto e a fundo o trabalho de cada deputado.
UR – Como você atua com as fontes das notícias no meio da Política?
CL – Quando critico um político, ele liga para dizer que não é bem aquilo. E quando elogio, de certa forma ele acha que você não está fazendo mais do que a obrigação. A sensação que tenho hoje é que lido com eles sem achar que o que dizem é uma verdade absoluta. Sempre ouço quem quer conversar comigo. Não se pode desprezar uma outra face da informação, senão você não vai captar o fato corretamente.
UR – E dentro de casa, o outro lado da mulher vem a pergunta que não quer calar (risos). Você sabe e/ou gosta de cozinhar?
CL – (risos) Olha, cozinhar eu não sou muito boa não, mas pra provar, sou uma beleza, viu? Acho que cozinhar é um dom, é absolutamente fantástico você juntar alguns ingredientes como farinha, ovo e leite e transformar num bolo gostoso, dou muito valor pra isso. Fui criada numa cozinha grande com minha mãe fazendo comida pra muita gente. A cozinha é uma arte. A cozinha é dom, ainda não perdi a esperança não, quem sabe?
UR – O que você faz pra manter a forma?
CL – Estou acima do peso há muito tempo (risos), mas agora tenho comedido um pouquinho aí, estou partindo para uma linha mais saudável. Eu sou goiana, a comida goiana é muito natural, a comida é feita em casa, as verduras, tudo feito em casa, é melhor. Pode ser isso aí, segurando um pouquinho a boca porque se for pela alegria eu sou meio gulosa (risos).
UR – Aproveitando que está recebendo um prêmio hoje, o que é um segredinho de felicidade pra você?
CL – Olha, fazer o que gosta. Eu acho que é o resultado de fazer o que eu gosto. Costumo dizer que trabalhar pra mim não é um trabalho, é uma diversão, uma realização, isso pra mim não é penoso, é uma alegria.
UR – Como você foi parar na televisão?
CL – A chegada na tevê se deu na Globo News, enquanto fazia análises políticas e, ainda, coberturas especiais, como a eleição e posse da Presidente Dilma em 2010. Atualmente, sou contratada da Central Globo de Jornalismo e continuo dialogando com meus colegas do jornal O Globo e de outros setores da rede de televisão.
UR – Sabemos que um momento intenso na sua vida profissional foi a cobertura da Campanha por Eleições diretas no Brasil, em 1984. Por que?
CL – Ah, naquele tempo, não existia celular, nem internet, a única coisa que havia era um telefone que você apertava e a redação ouvia. Eles pediam 15 linhas, e a gente tinha de fazer o retrato daquele momento. O ritmo de trabalho não diminuiu no governo de José Sarney: No dia em que foi editado o Plano Cruzado de reforma da economia, por exemplo, eu tinha voltado da minha licença-maternidade. Saí de casa às 7h, voltei às 23h. Cheguei a ter febre. E nesse dia o bebê não mamou.
UR – Outros momentos tensos?
CL – (risos). No governo Collor, lembro que as relações entre a cúpula e os jornalistas eram tensas. Um dia, no estreito corredor do prédio anexo do Palácio do Planalto, eu estava indo e o presidente voltando. Pensei: “Meu Deus, que sorte, vou fazer uma entrevista com o Collor.” Mas ele se virou para outro lado e a entrevista não saiu.
UR – Com tantos anos de carreira, você parece que está sempre em emprego novo...
CL – Mantenho o entusiasmo. Na passagem do governo de Fernando Henrique Cardoso para o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, trabalhei duro. Teve um dia em que fiquei no ar de manhã até a noite, porque a gente ia descobrindo quem é que saía e quem entrava. Era o paraíso para nós - notícia o dia inteiro. Para mim, melhor do que isso, só os filhos!
UR – Desde que assumiu a política, percebeu muitas mudanças ao longo desses 30 e poucos anos?
CL – Fui me especializando em notas curtas – o que me ajudou, anos depois, no trabalho na televisão. Antes disso, após 13 anos em O Globo, com a transferência para O Estado de S. Paulo, observadora de fatos e tendências, continuei acompanhando de perto a vida política brasileira. Tivemos uma ditadura que interrompeu a formação de novos políticos. Viemos de uma economia fechada em que até posto de gasolina era uma concessão pública. E isto significava ter amigos no poder. Hoje, novos personagens com ideal político ainda não se estabeleceram. Talvez venha agora com o que chamo de geração de netos: o neto de Tancredo Neves, o de Miguel Arraes, o de Antonio Carlos Magalhães e o de Mário Covas.
UR – Como é vivenciar a faceta “nua e crua” da política brasileira - nos bastidores, quando o gravador é desligado, no cafezinho, no Congresso, ouvindo o que eles falam de verdade?
CL – Sinto não nos bastidores e nem no cafezinho, porque lá para eles (políticos) o mundo está tudo muito bom. É na rua que a gente vê. Nós, jornalistas, vamos trabalhar sabendo e contando com o fato de que qualquer cidadão hoje é um repórter. Todo mundo que tem um smartphone é um repórter. E já é há algum tempo. Às vezes, as pessoas avisam onde estão pelo Instagram. O Eduardo Campos falou uma vez que “O mundo está no sistema digital e a política ainda está no analógico”. Concordo! E não é só aqui, é em muitos lugares. A política ainda não entendeu a rapidez que as pessoas querem. Todo mundo quer correr atrás e, para isso, tem que ter estrada boa, transporte público, assistência à saúde. E nós, jornalistas, queremos chegar primeiro. E a política tem que correr para se atualizar. Todo dia de manhã eu penso em ser justa. E ser justa é enxergar a coisa nos seus diversos ângulos. O que aquilo representa para o conjunto da sociedade.
Imagens: Divulgação / Carlos Cianci