Sexta, 07 Setembro 2018 01:04

Primeira Comandante da Avianca, Jaqueline Guglielmi, nos fala sobre sua trajetória e rotina

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Ela foi a primeira mulher a pilotar um avião na Avianca, foi promovida a comandante e trabalha na área há 22 anos.  Nascida em São Paulo, com 40 anos, recem completados (30/08) é casada, também com um piloto e não tem filhos. Sim, converso com a “pilota” Jaqueline Guglielme.

Jaqueline começou como comissária de voo na antiga empresa Varig, no ano de 1997. Trabalhou por 2 anos nesta função, já tinha vontade de ser piloto, mas não tinha tempo suficiente para se organizar e efetuar as horas de voo e o treinamento necessário. Foi quando decidiu mudar de função e foi trabalhar na loja da Varig “em terra” na cidade de Curitiba, onde morava na época, o que facilitava seu treinamento.

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Em Curitiba, fez o curso de piloto, as horas de voo e a faculdade de ciências aeronáuticas. Depois, entrou como instrutora de voo no aeroclube do Bacacheri. A primeira companhia aérea comercial foi a Variglog, uma companhia de aviões de carga, e entrou na função de copiloto, no ano de 2007. Voou na Gol e, na sequência, ingressou na Avianca, ainda como copiloto, onde já está trabalhando há sete anos. Há um ano, foi promovida para a função de Comandante.

Mas nem sempre suas conquistas foram tão fáceis. “Sempre foi um meio totalmente masculino, mas acabei me acostumando com isso. Pensei em desistir logo que me formei, quando a aviação não estava no seu melhor momento. Fui fazer faculdade, me ocupar com outros trabalhos, mas aquilo não era o que eu queria. Muitas meninas começam como comissárias, mas gostariam de ser pilotas também”, relata a comandante, que entrar na área é uma das partes mais difíceis.

E foi num evento de formatura na Avianca, em que a companhia criou um programa chamado Donas do Ar - em julho aconteceu a primeira turma exclusivamente feminina de pilotas do Brasil que conheci esta pilota tão corajosa (segundo dados da International Society of Women Airline Pilots a cada 100 pilotos das 34 principais companhias aéreas do mundo, apenas 5 são mulheres, mas aos poucos, porém, a estatística começa a mudar).

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E Jaqueline Guglielmi foi a grande estrela do debate. Foi ela quem recebeu a maior quantidade de perguntas e tirou muitas dúvidas das convidadas em relação a sua história e ao seu dia a dia como comandante. A comandante da Avianca parabenizou as colegas Pilotas recem formadas e deixou claro que esse é só o começo de uma jornada cheia de desafios.

E claro, que ela – com a maior boa vontade, falou com o Universo de Rose também. Confira a seguir, a entrevista que fizemos com a Jaqueline, e descubra como é o seu dia-a-dia e quais os desafios que uma mulher tem que enfrentar para se tornar uma piloto (a) de uma máquina tão poderosa, mundialmente chamada de avião.

Universo de Rose – Jaqueline, como você chegou até aqui, qual o caminho para entrar nesta posição. Era um sonho?

Jaqueline Guglielmi – Sim era um sonho. Para chegar até aqui é possível fazer o curso teórico e prático em escolas credenciadas pela ANAC. Outro caminho pode ser a formação em faculdades de Ciências Aeronáuticas que congregam a teoria e a prática de voos dentro de uma formação superior. Fu avançando aos poucos...

UR – Qual foi a reação de seus pais quando souberam de sua escolha? E como eles encaram sua posição hoje?

JG – Desde pequena acompanhava os vôos com meu pai, que também é aviador, hoje ele é aposentado. No início, ele ficou temeroso e não me apoiou muito, levei até um susto. Mas ao ver minhas conquistas, ficaram felizes e sempre me apoiam. Hoje tem muito orgulho de mim, minha mãe também...

UR – Como foi o seu primeiro vôo?

JG – Tranquilo! No início a gente faz um número de horas de vôo e depois aprende a voar sozinha, você já é um piloto quando assume o comando da aeronave. É liberado um avião pequeno, para você se aprimorar, mas você já é um comandante, onde aprende postura, rotas, lidera. Aconteceu onde eu morava, foi lá em Curitiba...

UR – Como é a sua rotina de aeroporto?

JG – O trabalho se inicia com a apresentação no aeroporto pelo menos com 01 hora de antecedência da decolagem. Recebemos toda a documentação pertinente à etapa a ser realizada para os procedimentos operacionais da aeronave. A viagem pode conter várias escalas e durar de 1 a 6 dias com repousos intermediários após cada jornada.

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UR – E qual o máximo de horas que você pode pilotar o avião?

JG – A gente tem uma regulamentação, pode-se atender uma chamada de até 06 dias com escala e pilotar 09 horas por dia no máximo. Pode ser até seis dias, envolvido com o trabalho, e dentro desses vôos, avançar no trabalho até umas nove horas, geramente de 03 ou 06 horas é o normal.

UR – Qual sua relação com pilotos homens?

JG – Profissional. Procuro manter um bom clima de trabalho e espírito de equipe na cabine, pois isso resulta em segurança de vôo.

UR – Você tem filhos? Como é o relacionamento com a família?

JG – Não tenho filhos. Mas agora quando estou chegando ao meu limite (40), talvez eu adote pois eu sempre tive essa vontade de adotar, nunca fui louca para ter filhos. Eu quis me realizar profissionalmente primeiro, fui deixando esta parte de lado. Meu marido é piloto também, voa, me ajuda em tudo, inclusive, profissionalmente (risos). Ele sempre me apoiou, a gente cresceu junto, mas em relação a adoção a gente deseja transmitir, educar, amar, alguém. É preciso pensar, construir um modo de vida flexível para cumprir as exigências do trabalho sem prejudicar a vida familiar.

UR – Como vê o mercado para as mulheres?

JG – Atualmente as mulheres estão encontrando seu espaço nas profissões ditas masculinas no passado. A aviação é uma área que oferece grandes oportunidades de realização profissional e satisfação pessoal.

UR – Como você se cuida? Tem algum segredinho para manter o pique?

JG – Eu procuro manter o equilíbrio sempre nessa rotina com horários alternados. Não sou aquela louca por dietas, mas como de tudo um pouco sem exageros, evito aqueles alimentos que fazem mal, me cuido, procuro dormir 08 horas por noite para descansar bem, caminho, estou sempre me “vigiando”...

UR – Você  tem uma preferência por trabalhar a noite ou de dia?

JG – Quando eu era mais novinha eu não me incomodava com o tempo, há todo momento que me chamavam eu estava disponível para trabalhar tanto a noite quanto de dia. Mas quando a idade vai chegando, você começa a pensar mais; tenho preferência de uma rotina, então prefiro voar de dia, porque sei que a noite vou dormir e descansar, me sentir melhor e mais disposta para encarar o dia seguinte.

UR – E você já enfrentou alguma saia justa?

JG – Ah sim, o clima, essas coisas acontecem de fora do avião, mas temos uma equipe boa, temos um preparo para lidar com imprevistos, situações trabalhosas e desafiadoras, é tudo muito enfatizado e temos muito preparo para encarar as mais diversas situações.

UR – E já ocorreu de entrar alguém no avião e desistir da viagem por ser um piloto mulher?

JG – Não pelo contrário, no final da viagem as pessoas querem me conhecer, inclusive os homens, cumprimentar, ter certeza de que é uma mulher mesmo que pilotou a máquina (risos).

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Moments - Comandante Jaqueline Guglielmi participa de painel e formatura de copilotas 

UR – Você mora em São Paulo e vai pra Paris – assim como eu vou para o centro da cidade?

JG – (risos) Gostaria! A gente precisa descansar, dormir bem e muitas vezes não dá tempo durante essas escalas nem mesmo de fazer umas comprinhas. O descanso é fundamental para um bom vôo, para que dê tudo certo.

UR – Vamos falar sobre carros, Terra,... (risos), você gosta de dirigir automóvel?

JG – Eu já dirigi muuito, não tenho medo, mas nos últimos 05 anos, eu me dou ao luxo e me dou de presente - me permito não dirigir, por comodidade. Caminho mais a pé, economizo no carro, me poupo de estresse, é gostoso não ter essa responsabilidade...

UR – Como você lida com as colegas de outras cias aéreas?

JG – Tenho contato com algumas meninas de outras companhias, não todas, mas sempre é de muito companherismo, amizade, tenho algumas na mesma função.

UR – Que conselho você daria para uma mulher que queira seguir carreira nesta área?

JG – É preciso ter muita disciplina, foco e persistência. O constante aprimoramento é indispensável. Pode parecer difícil, mas não é impossível.botao voltar

Imagens: divulgação / Carlos Cianci - Moments e Comandante Jaqueline Guglielmi participa de formatura de copilotas 

 

Rosângela Cianci

Jornalista, repórter, palestrante, apresentadora, produtora de TV, idealizadora do site Universo de Rose. Incansável observadora do cotidiano, sou apaixonada pelo que faço. Ex-Secretária Executiva, sempre lidei com Diretoria e Presidência, mas, prestes a completar Bodas de Prata na área, resolvi desengavetar um sonho antigo: o Jornalismo. E parti pra nova luta com 40 (e uns anos), pois meu negócio é escrever e conversar sobre assuntos de A a Z...

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