Xuxa é competidor por natureza e conta o que faz fechar um ciclo e transformá-lo em oportunidades sem perder os cuidados com a saúde e tempo para curtir a família
Ele começou a ter projeção nacional em 1992. Buscou a natação para combater problemas respiratórios. Aos 14 anos participou das primeiras competições e, nesta época, treinava no clube Doze de Agosto. Começou a ter projeção nacional ao vencer os 50 metros e os 100 metros livre no Troféu Brasil. Nesse dia, os amigos criaram o apelido pelo qual Scherer se tornou muito conhecido: “Xuxa”, devido aos cabelos loiros que o catarinense possuía, que pareciam com os da apresentadora infantil de televisão. Xuxa ganhou muitas medalhas em Jogos Pan-Americanos. Sendo sete douradas, duas de prata e uma de bronze. A primeira foi em Mar del Plata, em 1995, quando venceu a competição de 50 metro livres. Quatro anos depois, em Winnipeg, foi campeão em quatro provas. Por fim, em Santo Domingo 2003, colocou mais duas medalhas de ouro no peito. Scherer ainda conquistou duas medalhas olímpicas.
O ex-nadador Fernando Sherer - Xuxa, no auge dos seus 42 anos, vencedor olímpico brasileiro é o tipo de pessoa que se reinventa a cada novo desafio ou fase da vida. Desde a infância, quando procurou as piscinas para combater seus problemas respiratórios, e seguindo até hoje, com a maturidade e os cuidados com a saúde, que certamente é um dos seus segredos para continuar com tanto vigor para vencer. Depois de se aposentar das competições profissionais de natação em 2007, redescobriu outros prazeres. O primeiro deles, a participação em “A Fazenda” no ano de 2009, que como ele costuma dizer, lhe rendeu um grande presente: seu casamento no ano seguinte com a atriz e bailarina, Sheila Mello. Desta união, sua filha caçula, Brenda, de 3 anos. Ele também é pai da Isabella, com 20 anos de relacionamento anterior e acha, inclusive, que está no seu melhor momento como pai, pelo fato de poder curtir as duas mais de perto.
Com uma trajetória esportiva vitoriosa e campeão olímpico consagrado, nem tudo foi fácil ao longo da sua carreira. Porém foi necessário para construir o grande homem que se tornou Fernando Scherer. Hoje, empresário, casado com a Sheila Mello, que conheceu em mais um desafio da sua vida, ele procura passar para as pessoas em suas palestras exemplos de superação e palavras de incentivo. Incentivo esse que dedica ao patrocinar crianças de todo o Brasil pela natação. Enfim, um campeão dentro e fora das competições, porém sem nunca desistir de sonhar e crescer.
E foi num evento realizado em São Paulo com o tema: “Esportes e asma – a prática de atividades físicas pode ser uma forte aliada ao tratamento medicamentoso” que o Universo de Rose conheceu Xuxa mais de perto e além da palestra com exemplos super bacanas e o médico pneumologista Mauro Gomes, diretor da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, conversamos um pouco sobre sua trajetória. A calma em pessoa ele vai destrinchando as perguntas numa conversa deliciosa onde falamos de tudo um pouco: asma (risos), família, filhos, treinos, mudanças, vitórias, viagens e claro, gastronomia. Confira!
Universo de Rose – Xuxa, explique melhor, que a doença o levou para a prática de esportes, em especial a Natação...
FS – Eu sofri muito com asma. Tinha todos os sintomas da asma mal controlada, como a falta de ar e chiado no peito e apenas tratava as crises com medicamentos de resgate, o que não era certo. Foi quando fui ao pneumologista, que além de me passar um tratamento contínuo, me indicou a prática de esporte. Segundo o médico, a prática de esportes só tem a agregar ao tratamento da asma. Quando o paciente tem asma não controlada, existe o risco de crises induzidas pelos exercícios físicos. Mas em combinação com tratamento medicamentoso que mantém a asma controlada, a atividade física melhora o condicionamento cardiorrespiratório do asmático e, consequentemente, a tolerância ao esforço. Veio a natação e o que no início era algo complementar ao tratamento, o esporte se tornou a minha paixão e fez a minha carreira. Hoje me medico de forma correta durante o ano inteiro. Além de ter conquistado muitas medalhas, ganhei qualidade de vida!
UR – Qual sua reação ao ouvir pela primeira vez seus amigos te chamando de Xuxa?
FS – Eu não gostei (risos)... Tinha apenas nove anos e foi por isso que o apelido pegou, porque eu não gostei. Tinha cabelos compridos e loiros até o ombro, coisa que hoje parece ser impossível, mas é verdade e era realidade na época! Mas pegou mesmo e eu tenho maior orgulho em ter este apelido, ainda mais depois de ter conhecido a minha madrinha em 1996. Nós chegamos a gravar um comercial lado a lado, foi muito bacana. Tanto Fernando como Xuxa fazem parte da minha pessoa.
UR – Aos 21 anos você foi considerado o Esportista Brasileiro do Ano (1995). O que isso significou para você na época?
FS – Falando a verdade nada me passou pela cabeça. Claro que este tipo de premiação me deixa orgulhoso, melhor atleta do Brasil, mas todos os atletas têm seu mérito. O atleta busca performance, isso nos engrandece, gera cobrança. O título de melhor atleta só veio porque eu tive de vencer tudo naquele ano: além do Pan, ser campeão mundial. A cobrança vem aí, o resto é conseqüência. Em 1998 fui considerado o melhor nadador do mundo, tenho orgulho disso também, mas sempre mantive os pés no chão, porque a vaidade no esporte não pode ter lugar. Se você se deixar levar ou acreditar que é superior por estas premiações você já era. Sempre haverá alguém mais novo ou treinando tanto quanto você, por isso eu sempre procurei dar tudo de mim sabendo que amanhã é um novo dia.
UR – Você foi treinar nos EUA... isso foi fundamental para sua carreira?
FS – Não foi. Eu fui bi-campeão mundial e medalhista olímpico em Atlanta treinando em Florianópolis, com Carlos Camargo e no clube Doze de Agosto. Ir aos EUA foi uma opção boa na época (em 1998), por ter mais privacidade, mudar a rotina e assim buscar novas motivações e inspiração. Foi muito útil e me trouxe resultados maravilhosos, como ser número 1 do mundo nos 50 e 100 m naquele ano (98), mas não foi fundamental.
UR – E como você continua cuidando da saúde?
FS – Atualmente, eu faço bicicleta e musculação. E em termos de alimentação, procuro comer corretamente, evitar doces, refrigerante e frituras. Na verdade, a impressão que tenho é de que foram muitos anos me cuidando que o corpo e a mente acabaram incorporando, então, hoje, fica meio que no automático. Mas é claro que como na época de atleta não me permitia determinados luxos – especialmente em período de competição. Hoje, costumo tomar um vinho com a minha esposa ou como um hambúrguer de vez em quando. Além disso, a Sheila também tem muita disciplina, acho até que mais do que eu (risos). Ela fez um curso, sabe cozinhar e conhece tudo sobre alimentação, fica mais fácil. O importante é que para tudo existe um equilíbrio, então basta que esses dias sejam realmente uma exceção e não a regra.
UR – A pergunta que não quer calar: Você sabe cozinhar?
FS – Ah sei, é muito fácil a minha culinária a gente simplifica muito a alimentação, salada, grelhados, fritura usamos aquela máquina air frie é tão gostoso tanto arroz integral, não comemos carbo branco... a Brenda já está entrando nessa...
Vc é uma pessoa gulosa? Não
Sim! Nós cozinhamos em casa....Mas quando está em casa, ele troca o microfone pelas panelas
UR – E nas viagens, vocês são assim tão disciplinados também?
FS – Tentamos, mas aí... Em restaurantes, não sou chato, vou e como sem problemas “aquela friturinha” feliz da vida, não é se privar eternamente é ter equilíbrio hamburguer uma semana feliz e ainda enjou... cheguei pro chef não dá pra mudar para uma sopinha...
UR – Por que você se expos em um reality show se já tinha um nome consolidado?
FS – Graças a Deus fiz a escolha certa. Estava em um momento certo da minha vida em que buscava novos desafios e lá encontrei vários. O principal: como ser e buscar o melhor que há em mim, e mostrar o verdadeiro Fernando, que ninguém conhecia. O brincalhão, moleque, divertido, amigo e apaixonado pela vida. E agora apaixonado pela Sheila Mello Scherer, minha mulher, minha filha, família...
UR – Você também já fez fotos sensuais para a revista NOVA, desfila e está sempre bem vestido. Como você lida com a vaidade?
FS – Sou vaidoso, me irrito com as rugas e adoro me cuidar. Eu me sinto bem me arrumando e uso até mesmo maquiagem se for preciso pra corrigir alguma olheira, não tenho vergonha disso, pois vivo da minha imagem até hoje. Gosto de fazer aquilo que me faça feliz. A minha vida gira em torno de felicidade, quero ser feliz e fazer quem estiver ao meu redor se sentir da mesma forma.
UR – Você fala de forma tão prazerosa de suas filhas, sua família...
FS – Amo minhas mulheres! – Isso inclui mãe e até a sogrinha (risos). Quando a Bella nasceu, eu era novo e estava em busca da minha medalha olímpica. Tive de abrir mão de viver de perto o início da vida dela porque fui treinar longe de Florianópolis (onde ela e a mãe moravam). Talvez, por isso, quis viver tão intensamente isso com a Brenda, ao ponto da Sheila me chamar de “pãe”, de tão presente. Sou coruja mesmo! A Isabella, inclusive, faz faculdade de moda e é atriz, sou seu grande fã! Acho incrível vê-la seguir seus próprios passos e se sair tão bem. Já a Brenda é minha grande companheira e faço o que posso para estar sempre com ela – inclusive sentar no chão, pintar as unhas, fazer maquiagem... (risos).
UR – De maneira geral, a transição e as mudanças de hábitos depois de se aposentar tão jovem foram difíceis?
FS – Não foi fácil, realmente. Imagine quem a vida toda estava acostumado a uma rotina bem firme, de acordar às cinco da manhã, treinar oito horas por dia, entre piscina, musculação e exercícios específicos; comer certinho; dormir cedo; traçar metas e objetivos com um calendário de ciclo olímpico para cumprir e de repente, parar? Mesmo tendo me preparado para esse momento e iniciado meus outros negócios, como a Hammerhead e a academia F.Scherer, enquanto ainda nadava. No começo, foi bem diferente, mas aos poucos também foram surgindo novos sonhos e objetivos. Durante todo o período em que competi, a alimentação sempre foi extremamente regrada, pois o corpo era minha ferramenta de trabalho e sempre cuidei e investi na minha saúde. Mas todo esse aprendizado seguiu depois que parei, porque apesar dele não ser mais minha ferramenta de trabalho, ficou a consciência da importância da alimentação, do exercício físico e dos cuidados com a saúde. Continuo cuidando da minha alimentação, mas me permito ser mais flexível do que era nos tempos de atleta olímpico, de alta performance.
UR – Por falar nisso, o que o Xuxa levou das competições para o mundo dos negócios?
FS – Sabia que a carreira de atleta era curta e que precisava me preparar, em especial, financeiramente. Então, no ano que fui eleito Melhor Nadador do Mundo (1998), eu, meu irmão Eduardo, que foi atleta de tênis, e sua mulher, a ex-nadadora Ana Catarina, decidimos criar a Hammerhead (empresa que fornece produtos e incentiva a prática da natação e do thiathlon, patrocinando outros atletas). A ideia era promover o esporte no Brasil em geral, por meio da natação, e trazer produtos de alta tecnologia para o País. A academia também veio na esteira, com a ideia de promoção de saúde, que abri em sociedade com meu outro irmão, Marcelo, que também foi atleta de remo. Os dois negócios cresceram e, hoje, a Hammerhead é a segunda marca na sua área, e a academia, uma referência em Florianópolis. Vieram também as palestras, que são grandes realizações para mim, por poder compartilhar minhas experiências e fazer com que as pessoas se motivem a construir suas histórias.
UR – Você se sente um atleta realizado?
FS – Um ser humano realizado. Tenho uma filha formidável, uma esposa maravilhosa e sinto que sempre dou o melhor de mim em tudo que faço, podendo errar, mas buscando ser o mais correto e justo. Tento ser amigo, fiel e companheiro. A natação perto da família fica muito pequeno mas certamente fui realizado como atleta, foi o esporte que me proporcionou tudo. Mas a família deu um significado que faltava no meu coração. Um filho vale mais que todas as medalhas de ouro que conquistei.
UR – Todos sabem o quanto um atleta esportivo deve ter perseverança, dedicação e viver para o esporte por grande parte da trajetória. O que foi mais difícil de agüentar e que lições para a vida você tirou disso tudo?
FS – Todos teremos momentos difíceis, dúvidas em relação ao nosso sonho, mas um homem sem sonho é como um céu sem estrelas. Precisamos sonhar e acreditar, persistir, lutar, trabalhar duro pra que nossos sonhos e objetivos aconteçam, nunca desistir deles. Minha palestra é exatamente sobre esse assunto... posso falar aqui por uma hora...sonhem e lutem por eles, continuo sonhando e batalhando.
UR – Que conselho(s) você daria a quem está se dedicando a carreira esportiva?
FS – Nunca aceitem um não, acreditem em vocês, todos somos capazes. Eu fui, sou e vocês também são capazes de chegar lá.
UR – Além de trabalhar na sua empresa de roupas e material para natação, você também participa de um projeto que patrocina crianças pelo Brasil. Como é esse trabalho?
FS – Queria fazer um trabalho para desenvolver o esporte e junto com a empresa, decidi patrocinar crianças de 10 a 16 anos, em todo o Brasil, entregando todo material de natação necessário para prática do esporte. Chegamos a 2000 crianças. Tento retribuir ao esporte um pouco do que ganhei com ele, ajudando a desenvolver um pouco o que me fez ser quem sou. Tudo o que sei, devo a natação. Sou muito grato ao esporte.
UR – Um sonho?
FS – Um sonho... realizei o meu maior, a conquista de uma medalha olímpica! Competir (hoje) é... bom demais! Ganhar... melhor ainda! Perder... não gosto. Mas é importante para aprender.
UR – Felicidade pra você é?
FS – Fazer o que gosta, fazer com muita paixão, coisas que vc abre mão ou se é uma medalha ou se é pra ver o sorriso da sua filha.
UR – Projetos em andamento?
FS – Tenho também um projeto bem legal para a TV, que sairá em 2017, mas ainda não posso revelar detalhes. Só posso dizer que o ‘bichinho da TV’ me mordeu e agora este é outro sonho (risos).
UR – Para você, o esporte é essencial?
FS – O esporte é essencial para todo mundo. Independente de se vai querer competir ou não. Primeiro, vem as coisas que você aprende com o esporte. respeitar o professor, aprender com a vitória, aprender com a derrota, lidar com a frustração, ser pontual nos horários (porque se você chega atrasado, seu treinador te dá uma bronca), etc. Por mais absurda que fosse a minha série, eu nunca ganhei “parabéns”. A não ser que ele sentisse que eu estava precisando muito daquele abraço em uma competição (risos), estava carente. Aí o cara vem e te dá um tapinha nas costas.