O Ministério da Educação lançará, no mês que vem, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que estabelece que todos devem estar alfabetizados ao fim do 3º ano do ensino fundamental, aos 8 anos de idade. É o que prevê, também, a meta 5 do PNE (Plano Nacional de Educação), em tramitação no Congresso.
No País todo, 5.182 municípios (93,2% do total) aderiram ao pacto e receberão material didático e cursos de formação docente. Uma notícia a ser comemorada? Em parte, afirmam os especialistas. O compromisso com a alfabetização é importante e é preciso, de fato, que o País se responsabilize por isso. A questão a ser discutida, questionam, é a idade estipulada para que esse processo se concretize. A secretária de Educação do Ceará, Izolda Cela de Arruda Coelho, diz que 8 anos é muito tarde para alfabetizar os alunos. — Oito anos é muito tarde. O País já paga muito caro pelo histórico de falta de atenção à educação. Então, se a ideia é mudar isso, temos de centrar esforços e apostar em metas mais ousadas. Disse ela.
Aprender a ler e a escrever é uma verdadeira realização na vida da criança. Na escola começam por volta dos 4/5 anos, primeiro com as vogais em maiúsculas, mais tarde com o resto do alfabeto … até que aos 7 anos são capazes de escrever qualquer frase. Alguns pais, ao matricularem seus filhos na educação Infantil, demonstram grande insatisfação quando os filhos não fazem suas primeiras leituras entre os 4 e 6 anos. Afinal, existe uma idade certa para aprender a ler e escrever?
A verdade, é que não existe idade certa. No entanto, segundo os especialistas, existe uma hora certa para a criança desenvolver cada habilidade. Existem os momentos mais propícios de estimulação do cérebro para assimilação de informações de determinada natureza. Assim, para que essa aquisição aconteça de maneira natural e tranquila, faz-se necessário um processo interativo no meio em que esta criança está inserida: família, escola e sociedade.
Como afirma Sandra Bozza, “a maturidade é produzida pelo meio cultural e pelo desenvolvimento das capacidades superiores do cérebro. Por isso, algumas crianças aprendem a ler aos 4 anos e outras aos 7. Sempre dependerá do caldo cultural em que estão mergulhados”. A criança que cresce em constante contato com a leitura e a escrita acaba se apropriando da língua escrita de maneira mais autoral e adquirindo experiências que vão fazer a diferença na hora de ela aprender a ler e a escrever efetivamente.É preciso que os pais reduzam suas expectativas em relação a esse aprendizado. “Não há motivos para achar que uma criança é problemática só porque um colega está mais adiantado”, afirma o neuropediatra Mauro Muzkat, da Universidade Federal de São Paulo.
É importante discutir o assunto com a escola, alfabetizadores e especialistas de educação, se os benefícios da leitura precoce ou aos 8 anos de idades são duvidosos ou não.
Apesar da capacidade neurológica das crianças, trabalhar com idade limite inferior aos 8 anos é utopia, pondera Priscila Fonseca da Cruz, diretora executiva da ONG Todos pela Educação.— Uma meta precisa ser desafiadora, mas factível. É claro que há muitos que lerão aos 6 e aos 7 anos, mas se conseguirmos uma régua que garanta que ninguém chegue aos 9 analfabeto, já é um bom início.
O secretário de Educação Básica do MEC, Cesar Callegari, também contesta a visão de que se deveria baixar para os 6 anos a idade de alfabetização. — O que estamos propondo não se trata, de forma alguma, de esticar um prazo. Nossas crianças vêm de várias origens e a escola procura minimizar essa desigualdade.Só devemos assegurar que todos, sem exceção, terminem essa fase alfabetizados. Isso não é afrouxar o trabalho, é respeitar que as crianças têm ritmos de desenvolvimento diferentes. O que vamos medir ao fim dos 8 anos não é a pura decodificação e a leitura automática. É algo mais complexo que, até mesmo nas escolas particulares, se consegue apenas nessa idade.
Fonte: R7Notícias
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