A designer de interiores novaiorquina, Iris Apfel, 97 anos, é hoje mais pop do que nunca. Não foi e nem é estilista, modelo ou editora de moda – mas isso, porém, não a impediu de se tornar uma influenciadora e ícone de estilo, dialogando com o mundo através de seu look, em que não economiza na exuberância e na riqueza de detalhes.
Empresária, designer de interiores e, a partir de então, ícone da moda, a norte americana, foi uma das primeiras mulheres a usar calças jeans nos EUA, ganhou espaço sob os holofotes na última década graças à sua autenticidade e ao seu inconfundível estilo colorido e exuberante. Segundo a própria, “os acessórios são itens obrigatórios na composição do look, o que torna qualquer um mais elegante”.
Quando Iris ainda atuava como designer de interiores, junto ao seu marido, Carl Apfel (morto em 2015, aos 100 anos), viajava o mundo em busca dos tecidos perfeitos para a clientela ilustre que incluía nomes como Estée Lauder, Jacqueline Kennedy Onassis e Greta Garbo. A dupla foi chamada para decorar a Casa Branca por oito gestões: Truman, Eisenhower, Nixon, Kennedy, Johnson, Carter, Reagan e Clinton. Aos 84 anos de idade, a designer foi surpreendida por uma virada em sua vida: passou a ter seu estilo reverenciado pelo mundo todo depois se tornar tema de uma exposição no Metropolitan Museum de Nova York, onde inicialmente seriam apresentados cinco looks seus em uma pequena galeria, mas o evento se transformou numa exposição inteira com mais de 80 looks e cerca de 150 mil visitantes.
Entre 2005 e 2006, Iris Apfel foi tema da exposição “Rara Avis: Selections from the Iris Barrel Apfel Collection”, que aconteceu no Metropolitan Museum (NY); em 2007, apresentou peças de seu guarda-roupas para o livro “Rare Bird of Fashion: The Irreverent Iris Apfel”; em 2011, no auge de seu reconhecimento, fechou parceria com famosa empresa de maquiagem para lançar uma coleção exclusiva. “Envelhecer graciosamente é não usar maquiagem pesada e não tentar parecer mais nova. Eu acredito que foi Chanel quem disse ‘Nada faz uma mulher parecer tão velha quanto tentar desesperadamente parecer jovem’, explica a influenciadora.
“Acho que você pode ser atraente em qualquer idade. Nunca tive muitos mentores ou ícones nem nada, eu simplesmente fui indo. Não estou fazendo nada violentamente diferente do que eu fazia há 50 anos. Meu marido e eu ríamos disso o tempo todo porque pensávamos ‘Meu Deus’, essas garotas dizem que eu sou ‘cool’, ou ‘hot’, ou qualquer que seja a expressão, e eu não estou fazendo nada diferente do que fazia há muito tempo. É engraçado. Não posso dizer que não gosto, é muito lisonjeiro! Quando você é velho, começa a desmoronar – e precisa fazer o melhor possível para se manter firme. Acho que fazer coisas e se manter ativo é muito importante. Graças a Deus eu amo fazer coisas. Eu me sinto abençoada por ter todas essas oportunidades nessa fase da vida.”, salienta Iris Apfel.
E no Brasil, nasce a peça “Através da Iris” uma homenagem à novaiorquina Iris Apfel, repetindo, ícone mundial da moda aos 97 anos. Nada mais, nada menos que a atriz Nathalia Timberg que está em cena como Iris Apfel (dando uma entrevista - ela abre sua casa e divide, com uma suposta equipe jornalística, suas histórias e opiniões sobre os mais variados assuntos, sem papas na língua).
“More is more, less is less and bore"; Mais é mais, menos é menos e chato”, é uma brincadeira com o velho “menos é mais”, o seu lema de vida. A peça inspirada nas ideias arrojadas e do humor ácido de Iris Apfel, faz uma imersão no universo desta mulher, que inspira e surpreende artistas e criadores mundo afora com sua autenticidade e pensamento. Suas ousadas misturas ao se vestir, seus acessórios exuberantes, os óculos gigantes e roupas multicoloridas falam sobre a independência e autenticidade. Sobre experimentar - e se experimentar – sem medo do julgamento.
O autor Cacau Hygino comenta “Uma das maiores surpresas que tive ao escrever o espetáculo, foi ter encontrado uma segunda personagem, dentro da nossa ‘Estrela Geriátrica’. Não são apenas, moda, estilo, frases ácidas e divertidas que permeiam seu universo. Descobri uma mulher de vida colorida - ela mesma fala que as cores ressuscitam os mortos – com uma larga experiência, movida pela vivacidade, bom humor e coragem. Encontrei uma Iris que serve de exemplo pra todos aqueles que desistiram da vida. Lembrem-se de que ela tem 97 anos e uma imensa alegria de viver!”.
A diretora Maria Maya, em parceria com o autor Cacau Hygino, concebeu o espetáculo como um documentário cênico. Os depoimentos da atriz no palco se misturam às suas aparições em vídeos projetados no cenário. As ações presenciais dialogam com as ações virtuais, numa interação em tempo real. O cenário de Ronald Teixeira é uma grande caixa vazada por grandes janelas, por onde vemos o interior da casa de Iris, com sua exuberância e barroquismo – objetos multicoloridos que vão, desde velas e obras de arte, a bichos de pelúcia e flores, além de duas coloridas poltronas bergère. Ao longo da ação, vamos compreendendo que se trata de um estúdio de gravação, mais uma vez borrando os limites entre realidade e ficção.
Vale lembrar que a atriz que representa Iris por aqui, é carioca, nascida em 1929, Nathalia Timberg, uma das mais importantes atrizes brasileiras. Coleciona em seu histórico mais de 40 peças teatrais, cerca de 08 obrascinematográficas e mais de 64 trabalhos na televisão, entre minisséries, programas e novelas. Consagrada pelo público e pela crítica, foi indicada a inúmeros prêmios por sua atuação e homenageada em importantes eventos relacionados ao cinema, ao teatro e à televisão.
A ideia é transpor para a cena não aquela mulher com todos seus acessórios e marcas. Mas sim me apropriar do ser humano que estava por trás disto, aproximando o espectador deste universo, que para a diretora não era somente estético. “Estabeleci minha encenação por vias do teatro documental, na tentativa de ultrapassar essa linha tênue entre realidade e ficção. Onde as questões abordadas são pertinentes a qualquer geração, em qualquer tempo, afirmando verticalmente um pacto com o real”, revela a diretora Maria Maya.
SERVIÇO: Teatro Faap - Rua Alagoas, 903 – Prédio 1 – Higienópolis.
18 de janeiro a 10 de março, Horários: sextas e sábados às 21h e domingos às 18h. Informações: (11) 3662-7233.
Duração: 50 minutos. Gênero: Documentário Cênico. Acessibilidade: aos domingos, intérprete de libras. Estacionamento no local
Fotos: Rodrigo Lopes
"Acho que fazer coisas e se manter ativo é muito importante. Graças a Deus eu amo fazer coisas. Eu me sinto abençoada por ter todas essas oportunidades nessa fase da vida.” – Iris Apfel